Às mágoas vindouras
- Robert A. de Souza
- 27 de mar. de 2017
- 1 min de leitura
"Gosto de mim.
Não é repentino.
Na verdade, é um processo recente de autoconhecimento.
Percebo que o meu corpo, marcado, terreno e imperfeito, é tão somente o invólucro de mim, e que a capacidade de perspectiva, imersa no entorno subjugador, é o que me individualiza o espírito. Construo ao passo que os pés golpeiam o chão a independência de me ser, ao custo de derrubar tudo o que hoje me é.
Mas me permito ser realista. Enxergar-me o eu não me tornará estranho ao eu alheio. O que pensa o outro ainda me dói. A conduta do outro ainda me fere. A carne ainda sangra, e a pele ainda grita. A lamúria do corpo ainda fala alto aos ouvidos da alma.
Deixa chorar, eu digo. No fim das contas, a lágrima seca. A dor da sevícia ameniza, e a cicatriz latente que permanece é símbolo do pulsar humano de reerguimento.
Amar-se é uma virtude difícil.
Não sei saber se me amo. O que sei é sentir, imparável, a mim e ao mundo.
Aos outros futuros: amar-lhes-ei, contanto que me cultivem a fagulha de amor com que já me tenho."
Robert A. de Souza
Comments